Uma das maiores qualidades que um diretor pode ter, na minha opinião, é saber lidar com diversos gêneros cinematográficos, o que é uma prova de seu entendimento de como funciona o cinema de verdade, e não só um gênero em específico. E, com A Invenção de Hugo Cabret, Martin Scorsese mostra que, além de ser o gênio por trás de filmes adultos e violentos pelos quais ficou conhecido e construíu sua fama, ele também pode ser um diretor de filmes família, cujo foco é o entretenimento leve e sentimental sem ser piegas. Além disso, Scorsese dá um show de direção em um filme que requer muitos efeitos especiais e usa o 3D pela primeira vez de forma magnífica, como se já fosse íntimo da tecnologia e mostrando para muitos velhos conhecidos do formato como se faz. O resultado é o filme com o maior número de indicações ao Oscar 2012, onze ao todo, incluindo melhor filme e melhor diretor.
A Invenção de Hugo Cabret, o filme, é uma adaptação do livro homônimo escrito por Brian Selznick e conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto, filho de um relojoeiro (Jude Law), que, com a morte do pai, passa a viver na estação de trem parisiense Gare du Nord ilegalmente, dentro de seus relógios, os quais são acertados pelo próprio. Ali Hugo tenta reconstruir um autômato que é a única herança de seu pai com a esperança de que o mesmo tenha deixado alguma mensagem no robô. Com o autômato terminado, não só uma mensagem é descoberta, como muitos segredos de pessoas das quais Hugo se tornou próximo.
Além de criar uma fábula de qualidade, com inteligência, bom humor e feita sob medida para a família, mostrando que não é necessário ser estúpido para se encaixar no gênero "filme família", Scorsese ainda constrói uma homenagem ao cinema com a presença de Georges Méliès (Ben Kingsley), um dos grandes nomes na criação do cinema e o principal da vertente cinematográfica conhecida como ilusionismo. A figura real e importante do homem que revolucionou o cinema e também era um dos principais nomes entre os ilusionistas, caricaturistas, inventores e mecânicos se torna personagem nessa obra de superação de medos e reconquista da confiança. Muitos filmes do diretor são utilizados em Hugo Cabret, desde Viagem à Lua (que é um dos principais durante o filme) até Le Mélomane, em que ele troca sua cabeça por outras. Há também trechos de outras obras do surgimento do cinema, além de citarem os irmãos Lumière, claro.
Na parte técnica não há o que reclamar de A Invenção de Hugo Cabret. A trilha sonora de Howard Shore é belíssima, mesclando o clássico do cinema com sonoridades parisienses da época para levar o especatador para aquele ambiente, que por sinal é a perfeição pura, graças a uma direção de arte impecável de Dante Ferretti e aos figurinos belíssimos de Sandy Powell. Não tem como deixar de lado também a fotografia lindíssima de Robert Richardson que mescla os tons azulados com os amarelados durante a produção dando aquele contraste entre quente e frio e criando imagens de encher os olhos.
Quanto ao elenco, Ben Kingsley está muito bem como Georges Méliès, assim como Sacha Baron Cohen domina a tela toda vez que aparece como o amargo e engraçado inspetor da estação. Já o protagonista poderia render mais. Se a sempre ótima Chloë Grace Moretz faz o que pode para passar a emoção e o entusiasmo de uma garota adolescente diante de uma aventura, Asa Butterfield escorrega na cenas que requerem maior emoção, soando forçado em certos momentos. Mas, no final das contas, não é nada que vá atrapalhar a experiência mágica que é ver A Invenção de Hugo Cabret. Veja o trailer:
See ya!!!
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