quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Oscar 2012 - Críticas: A Árvore da Vida

Nota: Este ano vou tentar postar minhas críticas de todos os filmes indicados ao prêmio principal da noite, o Oscar de melhor filme. Além disso, caso eu assista algum filme das outras principais categorias que eu ache interessante postar, eles terão seu espaço aqui no blog. Não garanto que eu vá conseguir ver todos até o dia da cerimônia e nem que terei tempo para isso, mas farei meu possível.

Para começar, o que é meu favorito até o momento (já que não vi todos ainda) ao prêmio: A Árvore da Vida. O filme de Terrence Malick, que estreou no Brasil no dia 12 de agosto de 2011, era um dos mais aguardados por mim no ano passado, vide os muitos elogios e comentários gerados pela obra. E sim, ele atendeu todas as minhas expectativas, mas me deixou com um grande medo de escrever sobre, tamanha sua complexidade. Já aviso que A Árvore da Vida não é um filme fácil, não deve agradar a todos e requer empenho do espectador. O filme propõe uma discussão filosófica a respeito da criação da própria vida e de seus caminhos enquanto mostra a vida de uma família nos anos 50, a forma com que criam seus filhos, suas relações afetivas e como cada decisão tomada pelo pai (Brad Pitt) – figura principal na educação dos filhos – influenciará na caminhada dos mesmos, principalmente o mais velho deles, Jack (interpretado por Hunter McCracken quando criança e por Sean Penn na fase adulta).


A Árvore da Vida, para mim, é uma obra aberta a interpretações diversas, um filme rico que leva cada espectador, com sua própria bagagem, a chegar a conclusões sobre a vida, a natureza e os mistérios que envolvem religião e Deus. E discussões religiosas não faltam na nova obra de Malick já que as referências estão por toda parte. Para começar, o próprio título da obra remete a um dos principais pontos do estudo da Cabala. A Árvore da Vida na Cabala seria o mundo do 100%, onde se vê tudo, se tem consciência de todo o caminho e do porquê que as coisas acontecem.

A árvore da vida vem a representar o mundo dos cem por cento, ou a consciência que permite-nos identificar nosso mundo físico como parte integrada à diversas outras dimensões. Esta estrutura é alimentada por uma substância primordial e infinita, que é a origem e satisfação de todos os nossos desejos, denominada Luz. E o desejo de receber esta luz é a nossa essência e o que nos mantém vivos. (fonte: Portal da Cabala)

Mesmo tratando muito de religiosidade, inclusive retratado uma entidade divina em muitos momentos do filme e evocando Deus em diálogos e imagens, a criação do mundo feita por Malick em sua introdução ao filme segue o caminho da evolução, o que não impede que seja Deus que tenha colocado cada coisa em seu lugar para desencadear eventos que dariam origem ao mundo e às suas diversas espécies que já passaram por aqui. Essa sequência inclusive é de uma beleza e poesia que há muito tempo eu não via no cinema, remetendo muito ao trabalho de Kubric, inclusive com o mesmo Douglas Trumbull de 2001: Uma Odisséia no Espaço como responsável pelos efeitos visuais incríveis.

Outro destaque extremamente interessante e polêmico é a forma com que Malick constrói seu filme. Digo polêmico porque é uma forma diferente, mesmo que não seja nada nova, de contar uma história e que pode desagradar uma parte do público mais convencional. Toda essa “novidade” gera um estranhamento e faz inclusive com que algumas pessoas abandonem o filme no meio da sessão (como aconteceu na sessão em que eu via o filme). A Árvore da Vida não é linear e não é conduzido tradicionalmente. Já estamos acostumados com a falta de linearidade nos filmes, afinal obras que vão e voltam no tempo são extremamente comuns, mas aqui temos a impressão de que estamos vendo lembranças o tempo todo. Nenhuma cena se mantém muito tempo na tela sem que haja uma intervenção de alguma imagem ou narração em off de algum personagem. Sua montagem brilhante faz com que nos sintamos dentro da mente de Jack e o filme aparenta ser um mergulho em suas memórias e sonhos.

O elenco está brilhante, desde Brad Pitt, que evoca a rigidez de um pai dos anos 50 na criação dos filhos com perfeição, inclusive equilibrando momentos de carinho e afeto que soam perfeitamente compreensíveis, mesmo que diferentes do comportamento regular do pai; passando pelas crianças que fazem seus filhos, em especial Hunter McCracken como o jovem Jack; até Jessica Chastain (que foi indicada ao Oscar este ano de melhor atriz coadjuvante por Histórias Cruzadas) , que interpreta a mãe com uma suavidade e beleza que beira o angelical. Sean Penn, como Jack adulto, mesmo com poucas cenas (mas que são totalmente necessárias para a produção) se mostra, como sempre, o ator genial que é, deixando claro seu sofrimento e a dificuldade de superar os traumas de sua infância. Seus traumas transparecem no seu rosto. Complementando a perfeição visual da obra temos a fotografia sempre clara e brilhante de Emmanuel Lubezki, belíssima de se ver. E além de um deleite visual, A Árvore da Vida também é um um show sonoro com uma edição de som incrível, que dá destaque para todos os elementos de uma cena, seja o barulho do sapato no chão de madeira até o bater de uma porta; e uma trilha sonora deliciosa composta por Alexandre Desplat (que trabalhou nos dois últimos Harry Potter e em O Curioso Caso de Benjamin Button), repleta de coros e próxima do religioso em certos momentos.

Certamente não arranhei nem a superfície dessa obra-prima de Malick com esse texto, porém o filme é uma daquelas obras que você precisa revisitar e que a cada vez que o vir perceberá novas coisas. A Árvore da Vida é, além de tudo, um filme para ser sentido. Confira o trailer do filme abaixo:



See ya!!!

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