J. Edgar pode ser colocado como um dos filmes mais ignorados nesta temporada de premiações, juntamente com Melancolia, Drive, Tintim e alguns outros esquecidos, principalmente pelo Oscar. Não que haja a necessidade de se vencer um prêmio para a validação da qualidade de uma obra, mas há uma explicação para esta total falta de reconhecimento do filme por parte da Academia e, na minha opinião, é o fato de o novo filme de Clint Eastwood tocar em um ponto delicado da vida do homem que, além de ser uma figura emblemática norte-americana, foi o responsável por criar o FBI e torná-lo a potência ele se tornou: sua possível homossexualidade. Tocar nestes pontos, mesmo na sociedade que se diz tão liberal hoje em dia, pode tornar o filme mal visto pelos votantes destas premiações, vide Brokeback Mountain, que conseguiu a indicação, mas não conseguiu a tão merecida vitória como melhor filme em 2006, que mesmo não retratando alguém de renome, fazia uma releitura de uma figura mítica do cinema norte-americano que sempre foi conhecida por ser um machão.
O filme tem como base a criação e o desenvolvimento do FBI, mas seu foco principal é na figura polêmica que foi seu criador, J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), que permaneceu no poder do bureau por nada menos que 48 anos, ou, como eles classificam no filme, durante oito presidentes. Hoover era como se fosse duas pessoas. Publicamente passava a imagem do homem poderoso, certo dos rumos pelos quais queria seguir com o FBI, convicto de suas ideias e sem medo de lutar por elas. Pessoalmente não era mais que um homem frágil e assustado por não entender seus sentimentos por Clyde Tolson (Armie Hammer) e nem saber como lidar com eles. O suposto relacionamento dos dois que o filme indica durou quase a vida toda deles. Além disso, Hoover não tinha nenhum escrúpulo em fazer o que fosse necessário para atingir suas metas, seja para a proteção do bureau, seja para a sua própria proteção.
O roteiro de Dustin Lance Black (Milk) foca neste paralelo entre os "homens" que Hoover era e suas influências, assim como seu desenvolvimento, já que o filme busca mostrar o personagem desde muito novo, no início de sua carreira, passando por seu desenvolvimento profissional e pessoal, até um Hoover já idoso e debilitado contando sua história, que é como o filme se inicia. Não há como não notar seu relacionamento com sua mãe (Judi Dench) e sua submissão a ela durante toda sua vida. Ele viveu para agradá-la e isso fica claro na cena em que ele aceita seus sentimentos por Tolson e tenta, de uma forma desajeitada, contar para ela, enquanto ela, percebendo o caminho que a conversa segue, o impede e o repreende. É uma das cenas mais tristes e belas do filme e um exemplo do belo trabalho desempenhado por Leonardo DiCaprio e Judi Dench na produção. DiCaprio é um caso à parte. Ele vem se tornando, se é que já não é, um dos melhores atores desta geração e, sem medo de papéis fortes e de se entregar, cria um Hoover que emociona e convence em qualquer um dos estágios de sua vida. Além disso, a dinâmica entre DiCaprio e Hammer funciona muito bem e a tensão sexual entre os dois é latente sempre que dividem a cena.
Outro destaque de J. Edgar é a parte técnica do filme, mas isto não é surpresa. Como se trata de uma obra de Clint Eastwood, não podemos esperar nada menos que o melhor. A direção de arte é impecável ao reconstruir os ambientes de cada uma das épocas visitadas pelo filme, assim como os figurnos de Deborah Hopper, colaboradora recorrente de Eastwood. A bela fotografia de Tom Stern investe em tons acinzentados e a edição de Joel Cox e Gary Roach é precisa ao lidar com a falta de linearidade da obra, fazendo inclusive boas inserções entre passado e presente. Agora, se tem algo que me incomodou durante J. Edgar foi a maquiagem. Ela não é das piores, mas é muito estranho ver aqueles atores debaixo daquelas próteses que, mesmo deixando-os diferente ainda nos permite reconhecê-los. A menos pior foi a feita para envelhecer Naomi Watts, já a de Armie Hammer está assustadora em alguns momentos, parecendo inclusive que está soltando de seu rosto. Mas isso é apenas um detalhe superável dentro de uma obra de qualidade que merece reconhecimento como J. Edgar. Veja o trailer:
See ya!!!
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