segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Inception

Christopher Nolan vem se destacando como um dos melhores cineastas atuais. Seus filmes sempre são um deleite visual e com histórias complexas que não tratam os espectadores como estúpidos. Nolan surgiu para o grande público com seu segundo filme, Amnésia. Ali ele já mostrava habilidade para contar histórias de formas ousadas e criativas, fazendo todo o filme de trás para frente. Seu filme seguinte, Insônia, protagonizado por Al Pacino e Hilary Swank, também era uma imersão no psicológico tanto dos personagens quanto do público. Com esse pequeno currículo, Nolan aceitou a tarefa de trazer de volta às telonas um dos personagens dos quadrinhos mais importantes, Batman, morto no cinema desde o péssimo Batman & Robin. Assim, em 2005, estreou Batman Begins, um reinício da franquia de deixar qualquer fã satisfeito e que calou a boca de muitos que não acreditavam no diretor no comando da adaptação. Já certo como o diretor de uma continuação de Batman, Nolan partiu para mais um projeto pessoal, O Grande Truque, ótimo filme de 2006, estrelado por Hugh Jackman e Christian Bale. Mas, mesmo como um diretor consistente, ele só se consagrou quando lançou o que seria a obra prima das adaptações de quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas, continuação do filme de 2005, que elevou o nível das produções do gênero e mostrou ser possível criar uma obra pesada, com roteiro impecável e ainda assim acessível ao grande público, algo que ele repete agora, em 2010, com o que é, para mim, o melhor filme do ano até agora, A Origem (Inception).


Nolan criou mais um espetáculo cinematográfico de encher os olhos e a mente. Inception conta a história de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um ladrão especializado em espionagem coorporativa que, junto com seu grupo, invade os sonhos de suas vítimas e retira todas as informações pretendidas por ali. E, como estão dentro de um sonho, quase tudo é possível. Quando, no meio de um golpe, algumas coisas saem errado, eles são contratados pelo seu antigo alvo para uma missão um pouco diferente. Invadir sim o sonho de uma pessoa, mas ao invés de roubar informações, eles têm que inserir uma ideia que pareça ser da própria vítima, Robert Fischer (Cillian Murphy), no caso, um herdeiro milionário de uma companhia de energia. Como se trata de algo muito difícil de fazer é necessário que eles entrem em mais de um nível de sonho para conseguir. Explico: no filme, é possível para os “assaltantes” entrarem em um sonho e, depois, dentro desse sonho, entrarem em outro e assim sucessivamente. Pode parecer muito complexo explicando assim, e realmente é, mas Nolan consegue tornar tudo mais simples durante a projeção, graças a um excelente e meticuloso roteiro escrito pelo próprio diretor.


Além disso, Inception funciona extremamente bem por causa de vários fatores em conjunto. A edição primorosa de Lee Smith, que vem repetindo a parceria com o diretor desde Batman Begins, é um dos elementos de destaque do filme. O editor consegue manter a ação constante em todos os níveis dos sonhos nos quais os personagens se encontram sem perder a força e a tensão em nenhum deles. A fotografia do filme também é belíssima, seguindo o estilo mais escuro e com tons mais azulados já usados em O Cavaleiro das Trevas. Os efeitos especiais são sensacionais e extremamente realistas. Nolan optou, acertadamente, por utilizar o mínimo possível de CGI em suas cenas. E a trilha sonora. Não tem como deixar de falar da já marcante trilha sonora de Hans Zimmer, que repete a já bem sucedida parceria de O Cavaleiro das Trevas. Memorável desde o início da exibição, a trilha de Zimmer serve para aumentar a tensão, pontuar as cenas de ação e ainda como ajuda na condução da história.


Outro destaque de Inception é o elenco. DiCaprio entrega uma atuação na medida que lembra em alguns pontos seu excelente papel em A Ilha do Medo, filme desse ano também, estrelado pelo ator e dirigido por Martin Scorcese; Tom Hardy e Joseph Gordon-Levitt também aparecem excelentes como os ajudantes do personagem de DiCaprio, e até como um certo alívio cômico, muito bem dosado; e Marion Cottilard continua provando ser uma ótima atriz, mesclando sua beleza à loucura pedida por sua personagem. Além deles, o elenco ainda conta com a sempre boa Ellen Page, Michael Caine, Ken Watanabe e Cillian Murphy. Ou seja, um elenco de peso que ajuda um ótimo diretor a nos entregar mais uma grande obra que prova a possibilidade de se realizar cinema para as massas com inteligência e personalidade. Ah, e o final, que final. Sem contar nada ou estragar a surpresa, só digo que Nolan consegue fazer com que o espectador saia do cinema pensando sobre o que acabou de ver, e que isso continua por um bom tempo, sendo possível inclusive nunca chegar a uma conclusão.


p.s. Comparações estão surgindo entre Inception e Matrix, justamente por seu caráter revolucionário e por mexerem com essa percepção do que é real e do que não é. Acho justo por as duas obras serem tão marcantes e questionadoras, mas não sou muito fã de comparações, para mim, cada obra é única em seu universo e deve permanecer assim.

Veja o trailer abaixo:



See ya!!!

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