É fato que grandes franquias sofrem com altos e baixos na qualidade de seus filmes. Mesmo trilogias elogiadíssimas possuem elos fracos, como é possível ver em séries como Homem Aranha e até no impecável O Poderoso Chefão - nos dois casos os terceiros filmes, mesmo não sendo as piores coisas já feitas, não se equiparam com seus antecessores. Com a série Missão: Impossível não foi diferente. Depois de um bom começo, o segundo filme, dirigido por John Woo, não conseguiu atingir as expectativas com uma trama ainda mais absurda que o normal e uma história fraca que nem todas as melhores cenas de ação do mundo poderiam salvar. Como Tom Cruise, que também é produtor da franquia, não é nada bobo, a partir do terceiro filme ele viu a necessidade de investir em diretores com visões diferenciadas e muitas qualidades criativas. Foi nesse ponto que J.J. Abrams (criador de Lost) entrou na jogada. Ele trouxe boas ideias que fizeram o terceiro filme recobrar a confiança dos fãs com uma boa história, um vilão de qualidade e um pouco de humanidade para Ethan Hunt (Tom Cruise). Esse direcionamento continuou para a quarta parte da franquia, que se mostrou, para a minha surpresa, uma das melhores coisas de 2011, com uma história de qualidade, com um roteiro bem desenvolvido e cenas de ação de tirar o fôlego.
Quando o filme começa, depois de um vislumbre de uma missão mal sucedida que se mostrará importante para o desenvolvimento da história, nos deparamos com Ethan Hunt preso em uma prisão de Moscou. Sem muitas explicações sobre como ele foi parar lá, presenciamos seu resgate por uma equipe enviada pela IMF. Esse começo já nos dá um gostinho do que virá pela frente: ação de qualidade, reviravoltas e um humor pontual que não existia nos outros filmes da série. Depois de resgatado, Hunt e a equipe responsável por sua liberdade, Benji (Simon Pegg reprisando o papel de M:I-III) e Jane (Pauta Patton), partem para uma nova missão, ali mesmo na capital russa. Eles precisam entrar no Kremlin e roubar uma série de códigos utilizados para ativar armas nucleares antes que um terrorista conhecido como Cobalto os consiga e assim impedir os planos deste terrorista de iniciar uma guerra nuclear. O problema é que essa entrada de Hunt e sua equipe no Kremlin fazia parte da estratégia de Cobalto que, ao explodir parte da sede do governo russo, incrímina os agentes e, consequentemente, a própria IMF pelo ataque. Diante do acontecido, os Estados Unidos instauram o Protocolo Fantasma do título que torna qualquer agente da IMF uma espécie de terrorista e que, se pego, será tratado como tal. Nessa situação, Hunt precisa, junto com sua equipe, encontrar o terrorista responsável pela explosão para limpar o seu nome e o de sua agência e ainda impedir que ele inicie uma guerra nuclear.
Muitas das qualidades de Missão: Impossível - Protocolo Fantasma estão ligadas ao diretor responsável pelo projeto. Assim como J.J. Abrams renovou a franquia na terceira parte, Brad Bird ficou responsável por provar que M:I ainda era uma franquia de qualidade e relevante. Ele conseguiu então criar, junto com os roteiristas Josh Appelbaum e André Nemec, um filme que não perde as principais características da série, como ação muitas vezes absurda e gadgets incríveis e surreais, mas que nos brinda com novidades inesperadas que funcionam muito bem, como o humor acentuado trazido principalmente pelo personagem de Simon Pegg. Bird, que faz sua estreia aqui como diretor de longas em live action, também cria algumas das melhores sequências de ação que o cinema viu nesse ano. Toda a parte que se passa em Dubai é de tirar o fôlego. O roteiro também injeta uma carga dramática forte que tem se mostrado relevante neste universo, desde o terceiro filme. Ethan Hunt tem se tornado, a cada novo filme, um personagem ainda mais profundo e repleto de sentimentos. O trabalho de Bird com os atores também é excepcional, tirando deles interpretações sinceras diante de sua situação.
Se tem algo em que M:I-IV peca (pouco, mas peca) é no vilão. Apesar de se mostrar inteligente e preparando para enfrentar de igual para igual a equipe de Hunt, Kurt Hendricks (Michael Nyqvist, da versão sueca de Os Homens que Não Amavam as Mulheres) não é muito explorado, se tornando basicamente o vilão da vez, sem uma construção de qualidade do personagem. É um problema, mas um problema bem pequeno, já que mesmo com essa brecha o filme consegue se construir de forma sólida e agradável. E se pensarmos bem, o foco aqui não era no vilão, e sim no próprio protagonista, o que torna essa falta de profundidade justificável. Ah, não posso deixar de falar da trilha sonora impecável de Michael Giacchino, que além de compor um trabalho incrível, ainda parte da trilha clássica para criar versões que se encaixam perfeitamente às localidades e missões.
Além disso tudo, o novo Missão: Impossível conseguiu provar que Cruise ainda pode ser um astro capaz de levar uma filme praticamente sozinho. Não importa quem divide a tela com ele, Cruise é o que move Missão: Impossível. Mesmo com quase 50 anos ele se arrisca em sequências de ação de causar inveja a qualquer garotinho e se entrega de corpo e alma àquele personagem. A utilização do personagem de Jeremy Renner, o agente Brandt (que vinha sendo anunciado como uma opção para assumir a franquia se decidissem tirar Hunt), acabou perdendo o próposito. Diante de todo o vigor de Cruise, Renner não conseguiu sair da função de assistente do protagonista e, com o sucesso satisfatório do filme nas bilheterias, acredito que o estúdio deve manter Cruise por mais um tempo como o rosto da franquia. E que venha M:I-V!
Confira o trailer abaixo de Missão: Impossível - Protocolo Fantasma:
See ya!!!
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